A turma d'agente e o protagonismo infantojuvenil: ação de educação em saúde em uma escola rural no sertão da paraíba

Mayria Rufino Sarmento

IFPB- Campus Sousa

Mayria Rufino Sarmento, estudante de tecnologia em agroelogia pelo Instituto federal da Paraíba, IFPB- Campus Sousa

Ariel Ferreira do Nascimento

Discente do curso de agroecologia IFPB– Campus Sousa. Brasil

Maria Heloysa Pereira Casimiro de Freita

Discente do curso Tec. meio ambiente IFPB– Campus Sousa. Brasil

Maria Eduarda Guedes Pereira

Discente do curso tec. meio ambiente IFPB– Campus Sousa. Brasil

Rackynelly Alves Sarmento Soares

Docente do IFPB – Campus Sousa. Brasil

Resumo

INTRODUÇÃO

A Turma d’Agente é uma história em quadrinhos (HQ) que foi criada no ano de 2021, como parte das ações comemorativas dos 30 anos dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) no Brasil (ECOS, 2022). A partir dessa criação, a ideia era lançar números anuais com temas pertinentes ao cenário epidemiológico da atualidade. 

Institucionalmente, a Turma d’Agente foi criada a partir de projetos de pesquisa e de extensão do IFPB Campus Sousa, cujo foco é a educação em saúde de crianças, adolescentes e jovens. Tem como parceiros sociais representantes da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde e da Editora ECOS da Universidade de Brasília, sendo este último, responsável pela publicação das HQ. 

Foram lançados dois números da revistinha, o primeiro com o tema “30 anos do PACS no Brasil” e o segundo “Amigo do mosquito ou amigo d’agente?” (ECOS, 2022). O próximo número, será lançado em 2023, abordará a temática do lixo em assentamento rural, é sobre essa aproximação inicial com a comunidade que esse texto pretende discorrer.

O lixo rural é uma temática bastante pautada. Além da dificuldade de acesso ao serviço regular de coleta, as comunidades rurais passam pelo agravamento relativo ao descarte das embalagens de agrotóxicos, visto que estas podem contaminar não só as plantações, solos e águas como também os moradores (RAMALHO, 2018).

Essencialmente, a Turma d’Agente utiliza a comunicação dialógica, buscando aproximar-se dos atores envolvidos de tal modo que seus potenciais leitores se

identificam com a linguagem, os cenários e o modo de vestir. Elementos do cotidiano podem estar de forma sutil incluídos na HQ. Para que esses elementos culturais locais sejam “capturados”, é papel da equipe do projeto estar atenta, registrando sons, imagens, texturas, tudo o que for relevante para a comunidade, na temática a ser abordada, precisa fazer parte desse acervo o qual será útil para inspirar a criação do roteiro, da parte gráfica em si e das atividades pedagógicas que compõem a HQ.

A comunicação dialógica utilizada por Paulo Freire considera os polos da comunicação equiparáveis: os mesmos que são detentores do saber são também produtores do conhecimento (ARAÚJO e CARDOSO, 2007). 

Nessa perspectiva, considerou-se como abordagem de aproximação inicial com a comunidade o photovoice. Trata-se de um método de pesquisa-ação que consiste em utilizar fotografias, geralmente capturadas por pessoas da comunidade com a finalidade de produzir conhecimento. O photovoice possibilita: 1) O registro de pontos fortes e fracos na e pela comunidade; 2) Promove o diálogo crítico e a produção de conhecimento sobre o tema em questão e; 3) Gera subsídio para formulação de políticas, possibilitando a aproximação com gestores públicos (WANG; BURRIS, 1997).

Diante do exposto, esse texto tem por objetivo discorrer sobre a aplicação do photovoice como estratégia de aproximação academia-comunidade, com público infantojuvenil de um assentamento rural, na perspectiva daeducação ambiental. 


MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de pesquisa-ação de abordagem qualitativa que utiliza como pressuposto teórico a promoção da saúde. Tem como direcionamento a educação em saúde com foco na problemática do lixo e seus impactos à saúde em áreas rurais. 

    

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 

A ação de educação em saúde aconteceu em uma escola pública rural no município de Aparecida-PB, no assentamento rural Nova Vida I. Esse assentamento é composto por 141 famílias, muitas vivendo em situação de vulnerabilidade social.  Constatou-se que ao redor da escola existem árvores e plantas ornamentais, também se verificou o incentivo aos cuidados com a natureza, mediante a utilização de materiais reciclados nos jardins da escola, a exemplo de pneus e garrafas pet. 


CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE

Inicialmente estabeleceu-se contato com a direção da escola, ocasião em que o projeto foi apresentado, obtendo-se também dados novos sobre a comunidade e pactuado o agendamento da visita. A primeira visita aos alunos do 5º ano teve como objetivo sensibilizar os discentes acerca da temática do lixo e dos seus impactos na saúde da comunidade e no meio ambiente.

Os materiais utilizados na oficina foram providenciados previamente pela equipe do projeto, e consistiram em: milho de pipoca; projetor; notebook; cartaz; vídeo; dois potes de pet contendo terra; bolinhos industrializados e maçãs.

A oficina teve duas horas de duração e foi dividida em cinco momentos:

  • Rodada de apresentação; 

  • Sessão de cinema;

  • Roda de conversa;

  • Lanche;

  • Divisão de Grupos e discussão final.


A sala de aula foi previamente organizada para a oficina, criando-se um ambiente favorável ao diálogo. O lanche foi organizado (Figura 1a), o cartaz (Figura 1b) e os personagens do Turma d’Agente foram fixados no local indicado pela professora do 5º ano. A pipoca foi preparada pela merendeira da escola.


Inicialmente, realizou-se a rodada de apresentação, momento em que também foram apresentados os personagens da revistinha. Seguidamente, promoveu-se a sessão de cinema para contextualizar o tema, e posteriormente estimulou-se as reflexões sobre a temática do lixo e seus impactos no ambiente.

No terceiro movimento, os discentes foram convidados a escolher um, entre dois itens de lanche (maçã ou bolinho industrializado), sendo esta uma estratégia de agrupamento. Explicou-se que aquela escolha indicaria a divisão da turma em dois grupos: 1) Proteção à saúde (Maçã) e 2) ameaça à saúde (Bolinho). Ocasião em que foi retomada a discussão sobre o tempo de decomposição dos dois compostos (orgânico x plástico).

Por fim, os alunos presenciaram o depósito dos resíduos desse lanche em dois potes transparentes contendo terra, os quais foram identificados e datados. Esse experimento foi deixado com eles na sala de aula para que acompanhassem o processo de decomposição.

Na orientação final, estabeleceu que o retorno da equipe do projeto estaria condicionado à devolutiva dos dois grupos, os quais iriam fotografar situações do cotidiano deles que representam proteção/ameaça à saúde ambiental relacionadas ao lixo na sua comunidade.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

A ação de educação em saúde aconteceu em 25/08/2022, no turno da tarde, com a turma do 5º ano, contando com a participação de 12 crianças. É importante mencionar a adesão da escola ao projeto, verificada pela acolhida da equipe do projeto na escola. Igualmente, ressalta-se o engajamento dos alunos durante as atividades da oficina, visto que contribuíram com conceitos prévios e vivências na comunidade, trazendo inclusive experiências realizadas na escola, a exemplo da produção de brinquedos e jogos utilizando embalagens recicláveis. 

Quando questionados sobre o que não deve ser feito com o lixo, de forma bastante frequente afirmavam que não podia jogar lixo no mar. Embora estejam corretos, esse tipo de poluição não faz parte do cotidiano deles, visto que o mar está a vários quilômetros daquele assentamento. Não mencionam os corpos hídricos de seu contexto (açude, cacimbas, rio etc.).  

Acredita-se que isso ocorreu, pois o apelo à não poluição dos mares é bastante difundido nos livros, televisão e em outras mídias. Implicando, nesse caso, em uma educação ambiental descontextualizada, que desconsidera o lixo do meio rural e os elementos que fazem parte do cotidiano daquelas crianças. 

Como resultado da oficina de photovoice os alunos realizaram 12 registros fotográficos relativos ao lixo em seu cotidiano, dentre as quais, três representam a proteção à saúde ambiental e nove representando ameaça à saúde ambiental. Concernente a análise dessas fotografias, verifica-se a queima do lixo e o seu descarte no meio ambiente como principais ameaças à saúde (Figura 2a e Figura 2b). No tocante às práticas de proteção, verifica-se o aproveitamento do lixo orgânico para alimentar galinhas e como adubo para frutíferas (Figura 3a e Figura 3b). Curiosamente, não houve registros de fotografias de compostagem, provavelmente, essa não deve ser uma prática na comunidade.

Analisando o conteúdo das fotografias, constata-se a presença de latas de alumínio, garrafas pet, sacolas plásticas, sucatas eletrônicas, entre outras. A falta de coleta de lixo regular no assentamento expõe a referida comunidade a diversos problemas, em especial aqueles relativos à saúde ambiental, interferindo nas condições de bem-estar e/ou nas situações de riscos potenciais à saúde humana.

As fotografias produzidas pelos discentes, dão pistas de alguns problemas potenciais sanitários, entre os quais evidenciam-se: poluição dos mananciais por chorume; condição favorável para o surgimento de doenças como cisticercose, cólera, disenteria, febre tifóide, giardíase, leishmaniose, leptospirose, entre outras. 


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O photovoice possibilitou compreender a percepção das crianças acerca da sua vivência com o lixo na comunidade. O método mostrou-se eficiente por fornecer subsídios para as ações seguintes do projeto. Além disso, possibilitou a sensibilização das crianças para a problemática do lixo, as quais foram capazes de identificar quais práticas promovem saúde ambiental e quais ameaçam.  

O projeto também incentivou a interlocução entre gestão da escola, alunos e comunidade convidando os diversos atores a refletirem sobre os impactos que o lixo vem gerando na comunidade. As próximas etapas do projeto deverão buscar responder, também de forma dialogada com a comunidade: como podemos superar essas problemáticas? Quem pode nos ajudar a resolver tais questões? E o que podemos fazer para mudar essa realidade?

Por fim, como resultado concreto, ao final do estudo, será produzido o terceiro número do Turma d’Agente o qual será impresso pela prefeitura municipal de Aparecida e distribuído na comunidade.


Texto completo:

Referências


ARAÚJO, I.S.; CARDOSO, J.M. Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.

C Wang, M A Burris. Photovoice: concept, methodology, and use for participatory needs assessment. Health Educ Behav. 1997 Jun;24(3):369-87.

doi: 10.1177/109019819702400309.

RAMALHO, E.V.B.M. Manejo dos resíduos sólidos gerados em áreas rurais por agricultores de um município de pequeno porte. – 2018. 90 f. dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Feira de Santana. disponível em: http://www.ppgecea.uefs.br/arquivos/file/dissertacoes/2018/edimille_vivian_batista_menezes_ramalho.pdf acesso em: jul. de 2022

ECOS. Editora ECOS – UNB. Turma d’Agente Volume 1. Disponível em: https://ecos.unb.br/wp-content/uploads/2021/12/turmadagente01.pdf Acesso em: Jul. de 2022


DOI: http://dx.doi.org/10.35512/ras.v7i1.7294

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